sábado, 13 de setembro de 2008

O quinto elemento

Caminhava à beira mar. Olhava as ondas enroladas, que lhe embatiam nos pés e enregelavam o corpo. A toalha abrigava-lhe os ombros fazendo parar o vento enquanto suspiros incontornáveis lhe fugiam do coração. Titubeante, vacilava entre sentar-se ou mergulhar e por isso continuava a andar.
Ao longe, avistou uma tribo com fogueiras e gritos índios, dançando e cantando palavras grunhidas, incompreensíveis. Os sinais de fogo mostravam desenhos no ar, qual fogo de artifício de Vila Branca, que lhe inundava as memórias da infância. Um céu desenhado assustadoramente, com estalos de explosão e caras feias de vudú, fizera-lhe ocorrer voltar atrás no seu percurso. À primeira meia-volta, foi derrubada por uma onda que resolveu impôr a sua força. Levantou-se para dar mais meia volta. Afinal, voltar atrás não teria sido uma boa decisão. Mas a tribo em celebração, certamente, não gostaria de ser incomodada.
Presa entre àgua, fogo, terra e ar e aprisionada num mundo de incertezas performativas. Ali ficou, sem saber para onde ir. Estava cansada, decidiu sentar-se. Esperava alguém para a salvar e recorria à toalha para a abraçar.

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