quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O bairro dos sorrisos

No meu bairro já começo a conhecer as pessoas e a forma de funcionamento. Já sei que à minha frente mora um casal jovem com um filho que acorda todas as noites a chorar. Sei que a vizinha do rés-do-chão é maluca e passa a vida a falar com o papagaio que se limita a repetir desenfreadamente as palavras "olá" e "có" (o diminutivo do nome dele). Sei que todos os dias, quando abro a persiana do meu quarto, e velhota que mora no prédio à frente está sempre de robe e rolos na cabeça a fumar um cigarro e a cuscuvilhar à janela. Sei que não há minimercado sem histórias diárias de roubos, discussões entre clientes ou outras situações mais hilariantes. Sei que há uma família com um cão que há uns tempos foi ameaçada de morte pela vizinha maluca, que já por várias vezes tentou matar os gatos de outra vizinha e esfaqueou o filho do senhor dessa família por não gostar do cão. Sei que, se precisar, o senhor Nuno do café, está sempre a postos para ajudar. Sei que o senhor indiano da banquinha de jornais me avisa sempre quando há promoções que envolvam filmes ou livros. Sei que o moço com trissomia 21 que mora no meu prédio é muito simpático e bem comportado. Sei que a Ana jabardona anda sempre com uma data de homens bêbedos, numa trupe que passa o dia de café em café, de cerveja em cerveja, de cigarro em cigarro e, quem sabe, algo mais. Sei que aos Sábados o bairro é invadido por chineses que têm aulas aos sábados de manhã na escolinha aqui ao lado - chineses ricos que invadem o bairro de Mercedes, BMWs, Audis e etc. Sei que agora a polícia está sempre, sempre aí, pronta para multar as dezenas de carros mal estacionados. Sei que o empregado do Rosa-Choque mora aqui na Praça das Nações e que é muito honesto - uma vez encontrou a minha carteira perdida no chão e fez uma maratona até conseguir entregar-ma, com tudo o que estava lá dentro. Sei que moram cá algumas pessoas conhecidas, como o Nílton, o Zé dos Fingertips ou a senhora que canta o hino do Sporting.
Sei muitas, muitas coisas, e cada vez mais coisas, e começo a adaptar-me a este local. Antes de vir para Lisboa, nunca tinha tido vizinhos, não sabia bem o que era viver em comunidade, partilhando histórias bairristas e reconhecendo muitos daqueles que não são do bairro. Não é o bairro mais segura, mas é este que me acolhe e é aqui que, finalmente, me começo a sentir em casa. Com todos os problemas e todos os sorrisos que me são apresentados diariamente. E todos os desafios (como a subida enorme desde o metro até ao meu prédio e mais os 3 andares que tenho que subir depois dessa colina).
É o meu bairro e a ele associo o verde da esperança que as recentes remodelações se prolonguem e possam tornar isto um bairro melhor. Mas, mais importante, espero um mundo lá fora melhor. Só assim o bairro pode ser realmente bom.

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