terça-feira, 8 de abril de 2008

Insólitos da saúde

Há uns tempos (uns muitos tempos) fui ao Centro de Saúde de Viseu pedir um cartão de utente novo porque perdi o meu. Disseram-me que demoraria cerca de meio ano ou um ano a chegar (não foi força de expressão, era mesmo a realidade).
Foi aqui que começou a aventura. Tinha chagado em cima da hora de fecho, mas o senhor até foi simpático e ainda me atendeu. Nestas pressas, acabei por deixar lá no pequeno gabinetezinho os meus óculos de sol redondos, grandes verdes da HM. Reparei no sucedido pouco depois, mas não voltei lá porque ia estar fechado. Nos dias seguintes, também não fui lá porque achei que não valia a pena o esforço da fila de espera grande por causa de uns óculos dos quais já estava um bocado farta, que tinham sido baratos e também porque estávamos no Inverno.
Passado umas semanas, recebi em casa um postalinho que requeria a minha presença no Centro de Saúde para assuntos referentes ao cartão de utente. Depois de muito procurar onde tinha que me dirigir e de ouvir um sermão por não ter levado o postalinho, que, "obviamente", teria que ter levado, para que pudessem saber do que se tratava e onde... fui dar, enfim, ao tal gabinetezinho onde já antes tinha estado. E foi o mesmo senhor que me atendeu. Mais uma vez, alertou-me para a necessidade de levar o postalinho comigo, mas, para minha sorte, disse que se lembrava de mim e que tinha sido ele mesmo a enviar o postalinho. Ora, ali estavam os meus óculos de sol, na mão do senhor simpático passado uns segundos de se ausentar da sala. Agradeci e pus-me a andar. Claro! Mandam-me postalinhos por perdidos e achados? Esta agora... Bom, ainda bem! Estão mais preocupados do que eu.
Entretanto, na semana passada, voltei a receber um postalinho. Desta vez, pediam-me que comparecesse no Centro de Saúde e levasse Bilhete de Identidade, Cartão de Utente e Cartão da Segurança Social. Fui lá hoje e, compenetradamente, levei o BI, o papel comprovativo de que tinha pedido um cartão de utente que ainda demorará meses a chegar e o postalinho. Segurança Social... naaaa, não tenho disso.
No postalinho, lá dizia para me dirigir ao 5º piso, nº 1. Supus que o nº 1 fosse o número da porta, apesar de naquele Centro de Saúde as portas nõ terem números. Fui à primeira que vi, deve ser a primeira. Esperei na fila e, quando me atenderam, mandaram-me para a porta nº 6. Embora as portas não tenham números, contei até à sexta porta. Era novamente o gabinetezinho que já me é bastante familiar. Mas fui atendida pela outra senhora. O senhor simpático não se encontrava no momento. A senhora ligou ao senhor simpático afirmando que "temos aqui um caso". Por momentos, passou-me pela cabeça ser portadora de algum vírus, uma doença qualquer... Será? Por momentos pensei que tinha sido um erro ir ali, não fossem eles mandar-me para um exílio qualquer, como no Ensaio Sobre a Cegueira, do Saramago. O "caso" tinha que ser tratado no 6º andar, onde hoje o senhor simpático estava a trabalhar, pois tinha sido ele a enviar-me o postalinho, por isso ele é que sabia o que se passava.
Dirigi-me ao sexto andar, que, só por acaso, é o piso das consultas médicas... O suspense foi muito bem feito naquele Centro de Saúde, mas não sei se era esse o objectivo. Esperei então na fila, e, como à terceira é de vez, o senhor atendeu-me e - sim!... - era ali que eu tinha que me dirigir. Finalmente! Mostrei o postalinho que me tinham enviado. "Ah! Já sei!", confirmou o senhor simpático. Sim, eu lembrava-me de lá ter ido buscar os óculos, pelo que anui à sua pergunta. "Mas os óculos não são seus!". "Como?". "Tem alguma familiar ou conhecida chamada Ermelinda?". "Não... mas porquê?...". "É que estes óculos pertencem a uma senhora chamada Dona Ermelinda".
Ou seja, o senhor simpático (ou não) estava a acusar-me de ter ficado com óculos alheios... Toda a gente da fila me olhava de soslaio, desconfiadamente pensando que tinham na sua frente uma ladra. Vá lá, não dei por ninguém a agarrar a carteira com mais força, mas de certeza que todos o devem ter feito... Mas que acusação foi esta? E, além disso, para que eram, então, necessários aqueles documentos todos que pediam no postalinho? Quando perguntei, ele pediu-mos. E pediu também o número de contribuinte. Será que me abriram cadastro no Centro de Saúde?
Morri de vergonha. Os óculos eram meus, sim, e foi isso que afirmei perante o senhor simpático (???). O senhor mandou-me devolver os óculos, pois houve um erro... Ele mandou o postalinho foi a uma dona Ermelinda, não foi a mim... Como? Mas quer que eu mostre o postalito e devolva os óculos verdes, redondos, grandes, com que todos os meus amigos gozam? Parece que sim... :S Que vergonha! Amanhã tenho que ir dar os MEUS óculos ao senhor simpático (???) atrasado mental, a quem posso acusar de difamação para ele poder falar com a Dona Ermelinda... E mostrar o postal só para dizer que o recebi... Ainda gostava de ver a cachola do senhor simpático (???) estúpido quando a Dona Ermelinda disser que os óculos não são dela. Ou então, ficar com uns óculos que não são dela...

3 comentários:

Anônimo disse...

LOL já tou a imaginar uma senhora de noventa anos com uns óculos "à Helga". O senhor simpático deve ter algum desajuste social

Anônimo disse...

LOL já tou a imaginar uma senhora de noventa anos com uns óculos "à Helga". O senhor simpático deve ter algum desajuste social

Dúbia disse...

Pá isso é inadmissível, a sorte do sr simpático atrasado é que eu moro em Lx... Helga isso não pode ficar assim :@