sábado, 7 de junho de 2008

Bullying

Ora, além do Euro 2008, o tema da moda é agora o bullying. Ainda agora começou a ser moda, mas é uma moda que vai durar... Logo agora que vem o Verão, que é uma época um bocado oca em termos noticosos...
Obviamente, as pessoas estão a fazer "um bicho de sete cabeças". Acontece, sim, e tem consequências graves em muitos casos. O problema é que estão a mostrar a coisa como se os alunos só tenham duas opções: ser rufia ou ser vítima de bullying. Ou seja, claro que é preferível ser rufia a ser vítima. Pelo menos, esta seria a minha opção se tivesse que escolher... E falam então que a crescente violência nas escolas portuguesas se deve a isso. Mas, quanto a mim, ou isto mudou muito em quatro anos, ou, mais provavelmente, estão a expôr as coisas de forma muito radical.
Deixei o liceu há 4 anos. E, claro, havia os "dreads", os "betinhos" e todas esses clãs de adolescentes inadaptados. Os "dreads" eram mais mauzões e os "betinhos" eram mais "cromos", embora fossem rebeldes o suficiente para se meterem também em confusões. Os verdadeiros inadaptados no meu liceu eram os "nerds". Os muito bons alunos, ou os caixa-de-óculos, ou os gordos, ou os que vinham das aldeias, etc, etc. Sim, havia discriminação. Mas não ao nível que dizem haver.
Para se ser aceite numa comunidade escolar, é preciso ser "cool". Independentemente do clã a que se pertence. Quem não consegue ser "cool" pode eventualmente ter mais problemas de integração. Em todo o lado! Não só nas escolas, mas também nos empregos, nos grupos desportivos, nos clubes de literatura, até no seio das próprias famílias. Sim, essas são as vítimas de bullying.
Mas, no meu tempo, que por acaso foi há pouco tempo, a maioria das pessoas nem era rufia nem era vítima de bullying; passava alheia a essas situações, embora admita que possa haver escolas mais complicadas do que a minha. Não acredito que em 4 anos tudo tenha mudado radicalmente e que, ou haja mauzões ou haja vítimas!
Numa reportagem da RTP, afirmaram que as vítimas de bullying eram más alunas e os alunos que ameaçavam eram bons alunos. Nunca deviam ter posto as coisas nestes termos! Eu era boa aluna... quer dizer que pratiquei bullying? E os "nerds", os marrões, que apenas se dedicavam a estudar? Praticavam bullying? E os mandriões, que só faziam asneiras, faziam gazetas constantes para ir para os copos e eram maus alunos? Eram vítimas de bullying? Toda a gente que eu vi chumbar o ano foi por ser baldas (e chumbar, muitas das vezes, por excesso de faltas), ou por ser, efectivamente, burro...
Na mesma reportagem, explicavam que alguns sintomas que indiciavam que alguém era vítima de bullying eram descer-se as notas, afirmar muitas vezes que não se tem dinheiro, deixar de se querer ir à escola... Eu mais facilmente diria que essa pessoa se meteu na droga ou que é um "granda dread".
Não quero com isto dizer que isso de bullying não existe. Apenas acho que se está a levar isto para um plano extremamente exagerado... Imagino a quantidade de pais que estarão a pensar que os seus filhos têm más notas porque, coitadinhos, são vítimas de bullying! Quando, mais provável do que isso, é quererem vida boa em vez de irem para as aulas. Imagino a quantidade de alunos que agora vão dizer aos pais que precisam de dinheiro porque são umas vítimas. Quando, mais provavelmente, querem é ir para os copos... Imagino os pais a falarem com os amigos e a dizer "O meu filho não passou de ano... Mas não é por ser um irresponsável do pior! Coitadinho, é vítima de bullying...".
Por que razão não divulgam dados concretos? Nessas idades até imagino alguém a dizer ao amigo do lado que "ya, man, sou buéda mau, estes cromos que bazem, meu, ou eu ponho-os a andar daqui p'ra fora". Logo, por dizer isto, está a praticar bullying... Quando, se for preciso, não faz mal a uma mosca e diz isto da boca para fora, sem afectar ninguém... Mas conta para as estatísticas! Poderia contar para as estatísticas da parvoíce, mas dizer isto a um amigo não é bullying... Outra coisa é dizer "putos, bazem daí ou mando-vos uma chinada!". Bah! Não concordo nada com a forma como este tema está a ser tratado. Vai trazer mais problemas!

2 comentários:

Dúbia disse...

A propósito, quero falar contigo, estou a ser vitima de bullying... precisava de uns trocos para comprar umas roupas Chanel e ver se a minha tortura acaba... eu sei que és solidária :P

Unknown disse...

A verdade é que os media portugueses se alimentam cada vez mais do choque que conseguem imprimir às reportagens. O que interessa mais do que a verdade e o profissionalismo é o "share" e temos vindo a aprender a descer cada vez mais baixo com o exemplo e influência de cadeias televisivas internacionalmente conhecidas, principalmente as Norte-Americanas [como por exemplo a Fox News]. O que interessa é o sensacionalismo da coisa e não propriamente a qualidade [*cof* tvi *cof*]. Por isso é fácil os canais televisivos pegarem em assuntos que têm tudo para ser boas peças de reportagem e transformá-los numa aberração noticiosa. Três dos mais mediáticos e flagrantes exemplos: o caso "Casa Pia"; o caso "Esmeralda"; e, claro está, o caso "Maddie". É vê-los torturar as pessoas até não dar mais, toda a gente sabe que aquilo está errado, mas a curiosidade e o impulso de vasculhar o alheio são maiores e mais fortes que a ética. Depois, claro, os media defendem-se com a alegação de que estão apenas a "defender o interesse público" e que "as pessoas têm direito a ser informadas". E assim é, mas as coisas não podem continuar a ser conduzidas da maneira que são: com uma fome de audiências que é capaz de destruir a melhor das intenções, como a de informar.
Sobre o texto, e sabendo que isto já está enorme, apenas tenho a dizer o seguinte: acho que todos nós, numa altura ou outra da vida, somos vítimas e preconizadores de "bullying". O problema é o da consciência daquilo que se faz, que na maioria dos casos, não existe. O problema é sério, as consequências podem ser gravíssimas, mas - e deve haver quem discorde por completo - no "bullying" tanto o "bully" como o bullyado [lol] são vítimas. Aquele porque é vítima de um mau ambiente, provavelmente, em casa; e este porque, coitado, não tendo nada a ver com o problema, usa óculos e aparelho logo está automaticamente sujeito a levar nas orelhas. A solução não é incriminar o "bully", mas quem o levou à prática daquele acto.

Peço desculpa pelo testamento, mas o jornalismo em Portugal faz-me espécie. A nossa esperança está nas tuas mãos =)