quinta-feira, 19 de junho de 2008

Escrever

Adoro a complexidade de frases longas. Quando escrevo um texto, gosto de surpreender com frases muito longas e, subitamente, uma frase curta, com frases mais ritmadas e outras mais pausadas. Gosto das repetições que se opõe ao vocabulário diversificado, dando ênfase a uma palavrinha apenas que é a chave do texto. O que mais me fascina são textos que nos fazem pensar, obrigando-nos a interpretá-lo minuciosamente, nos quais a minha interpretação pode ser diferente da tua. E acho delicioso quando o conteúdo de uma frase é oposto à sua construção. Gosto de escrita mais artística, mais intelectual, mais livre e menos simples. Saramago pode ser um dos meus muitos heróis, e porque não? Por isso o jornalismo cheio de regras incomoda-me. Não gosto disto, não sou perfeccionista e não gosto de mudar um texto que escrevi como o coração me mandou para olhar para ele de forma racional,o que lhe tira toda a piada. Parágrafos longos, parágrafos curtos, frases sem nexo com todo o sentido. Sem verbos. Porque não? Fluir. Sem nomes, nem pronomes, nem a básica construção frásica. Palavras que podem rimar. Porque não? Odeio a escrita certinha. Não sou jornalista dessas. Sem artigo indefinido feminino. Porque não? Gosto de me expandir, dizer o que penso, abrir horizontes aos leitores, intelectualiza-los (ou não) um pouco mais. Com apartes (ou não). Porque não? E se não me apetecer fazer parágrafo? E se eu quiser fazer uma abordagem mais alternativa? Porque não? Às vezes, gostava de voltar atrás no tempo. Remontar aos meus 14 anos e perguntar-me: "Por que razão não fui para matemática?", na sua linearidade, objectividade, pelos desafios motivantes com que nos presenteia sempre?. Sim, dois pontos de interrogação na mesma frase. "Não se pode, vai contra as regras". Mas quem me diz isto já levou multas no carro, de certeza. Porque "foi contra as regras". Regras, se existem, são para ser quebradas nos momentos certos. Não são incontornáveis... E continua sem me apetecer fazer parágrafo. "Ah, mas um parágrafo deve ter entre 3 e 5 linhas." Ok, eu tenho 500 linhas num parágrafo. Porque não? Sou indisciplinada. Isso pode reflectir-se na minha escrita. "Não pode ser". Mas se não se reflectir isso, então não é o meu texto, onde imprimo a minha personalidade. Quero fazer textos meus e não o dos outros. São maus? Despeçam-me... Alguém há-de gostar.

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