sábado, 28 de junho de 2008

Os "frontais"

As pessoas não são sinceras. Nem com os outros nem consigo próprias. E há um tipo de pessoas que, juro, são as únicas que me fazem mesmo muita espécie. O grupo dos "frontais".
Se algo os chateia, pois que vão discutir e descarregar noutras pessoas/coisas sobre assuntos forçados apenas para evitar pensar naquilo que verdadeiramente os chateia e acabando por culpar quem não tem nada a ver com a história. Quando querem convencer alguém de alguma coisa, usam todos os argumentos que ocorrem, mesmo que sejam argumentos parvos, mas, depois, quando confrontados com a mesma situação mas no papel de "pessoa que está a ser influenciada", ficam ofendidíssimos por lhes dizerem o mesmo que eles já disseram aos outros. Se estão felizes, zangam-se com quem não está nos melhores dias. Se estão tristes, fazem questão de criar mau ambiente para fazer de todos os outros tristes também. Adoram criticar, mas é o fim do mundo quando são criticados. Adoram gozar com as pessoas, mas, quando gozados, não concebem que aquilo não passava de uma brincadeira sem maldade. Se querem ir para um lado específico, não são capazes de dizer "quero ir para ali", com medo que perguntem o porquê ou com medo de assumirem, mesmo perante si próprias, que querem ir a um lugar que mais ninguém quer. No entanto, andam com os outros a saltitar de spots, sempre mal humorados e mandando frequentes indirectas do tipo "ó tu, não és tu que gostas daquele sítio? se quiseres podemos ir, que não seja por mim, que eu não tenho qualquer tipo de problemas com isso, a sério!". Finalmente, levamos os "frontais" aos lugares que eles tanto procuram e chega a alegria. Não seria mais fácil dizerem "vou não sei onde, ninguém quer vir?".
São estas as pessoas que dizem "o que eu tenho a dizer, eu digo logo, e digo na cara, sou muito impulsivo e frontal". Cada vez mais me convenço que quem diz isto são as pessoas com mais "segredos", com mais atitudes forçadas e que mais menosprezam os outros. Dizem as coisas na cara quando querem descarregar em cima de alguém. Não dizem as coisas na cara para perguntar se precisam de ajuda, para saber se está tudo bem, para um sorriso ou uma palavra de encorajamento. Dizem as coisas na cara porque "ya", são rebeldes e radicais e é cool dizer que se é frontal. Mas para se ser frontal, não se tem a necessidade de repetir aos quatro ventos que se tem essa característica. Até fica mal! Principalmente quando sabemos que essas pessoas seriam incapazes de assumir determinadas coisas e não olham nem para si próprias com frontalidade. Não querem olhar os seus defeitos, mas são as primeiras a condenar os outros. E nem quando outra pessoa "fontal" lhes aponta defeitos elas são incapazes de acatar. Até aí fogem da frontalidade e viram a cara tipo "não! eu não sou nada do que tás a dizer" porque a outra pessoa é que é parva para achar aquilo deles, que são tão perfeitos. No fundo, dizer "epá, sou muita frontal" significa"epá, sou daquelas pessoas com um feitio lixado que acha que tem sempre razão e acho-me a pessoa mais legítima para refilar com os outros, sendo capaz de lhes dizer as piores coisas, deixá-los mesmo em baixo, isto, claro, sem aceitar que alguém jamais fale da minha vida, a não ser que sejam coisas boas, porque só eu é que tenho legitimidade para criticar os outros". É isto que quer dizer frontalidade? É por isso que é cool?
Não entendo a necessidade de se dizer que se é frontal. Até porque ninguém é totalmente frontal. Vamos dizendo as coisas, mas só quando o objectivo é magoar é que as pessoas usam o argumento "sou assim, sou directo e frontal e as coisas são assim", secas. Há situações em que, muito bem, é de louvar a frontalidade. Mas, tantas vezes, é tão escusada! Podemos ficar-nos pela sinceridade e matar a frontalidade?

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